Betim solicita parceria entre os órgãos públicos do Estado no combate à violência
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- Criado: Sexta, 19 Junho 2015 18:09
O Plano Municipal de Segurança Pública e de Defesa Social do Município de Betim, como também a violência e a criminalidade na cidade e na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foram discutidos em audiência na Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta sexta-feira, 19/6/2015.
Na ocasião, o deputado Sargento Rodrigues afirmou a importância dos prefeitos em provocar a comissão de segurança pública para solicitar a presença de autoridades e debater um tema tão complexo. Ele lembrou que duas rodovias federais cruzam a cidade e devido ao município ser um polo industrial gera muitos empregos. “Quando as pessoas tentam um emprego na cidade e não conseguem, elas ficam frustradas, causando uma ruptura social de diversas formas, gerando o aumento da criminalidade e violência”, disse.
Sargento Rodrigues destacou, ainda, que a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, responsáveis pelas rodovias federais, estão sucateadas, sem efetivo, não conseguindo responder a altura, sobrecarregando as polícias estaduais e deixando entrar armas e drogas pelas fronteiras que deságuam nas cidades, o que aumenta a criminalidade e violência na região. O parlamentar ponderou, ainda, que o município precisa atuar, firmemente, no campo da prevenção social.
De acordo com o prefeito Betim, Carlaile de Jesus Pedrosa, muitas empresas são instaladas em Betim em busca de mão de obra, o que gera, também, o aumento da violência na cidade. Em relação as rodovias, o prefeito explicou as dificuldades que Betim enfrenta, lembrando que as rodovias federais que a cercam, servem de rota ao tráfico de drogas. Ele ressaltou a importância de haver uma parceria entre os órgãos públicos do Estado no combate à violência. “Precisamos do apoio da Polícia Civil e Militar, como de todos os órgãos do Estado, porque Betim é o maior parque industrial de Minas Gerais, gerando o maior ICMS do Estado, o que contribui muito com recursos”, afirmou.
O Prefeito também destacou que a cidade possui 450 mil habitantes e, apenas, 550 policiais militares, sendo necessário recursos do Estado e da União para ajudar no combate a violência. “Temos guardas municipais e patrimoniais, mas precisamos de parcerias, pois não conseguimos combater a violência sozinhos”, afirmou. Ainda segundo o prefeito, ele criou a Secretaria Municipal de Segurança Pública, onde foi elaborado um Plano de Segurança Pública para ajudar no combate a criminalidade e violência no município.
Plano Municipal de Segurança Pública
Durante a reunião, o secretário Municipal de Segurança Pública de Betim, Luis Flávio Sapori, agradeceu a oportunidade para mostrar a gravidade da situação em Betim e região, como também as propostas para a redução da criminalidade e violência. Ele também declarou a necessidade de parceria com o Governo do Estado.
Luis Flávio Sapori afirmou que a secretaria elaborou um plano de segurança pública denominado “Betim pela paz” que possui 23 ações práticas, concretas e objetivas, a serem implementadas em 2016 e 2017. “O objetivo do plano é contribuir com o Governo do Estado para reduzir a violência e a criminalidade”, disse. Segundo ele, o município é uma das três cidades mais violentas do Estado e está entre as 50 mais perigosas do País. “Estamos entre as 50 cidades do Brasil que possuem mais homicídios realizados por jovens entre 18 e 24 anos, sendo também 50 homicídios por 50 mil habitantes”, enfatizou.
Sapori esclareceu que, em 2014, ocorreram mais de 5 mil roubos a mão armada e enfatizou sobre o tráfico de drogas e o alto índice de impunidade no município. Para ele, a impunidade ocorre, principalmente, devido ao baixo contingente de policiais civis e militares. “Precisamos de ações específicas da Polícia Federal para diminuir o tráfico de drogas. A impunidade é muito grande, se conseguirmos diminuí-la, em dois anos diminuiremos os índices de violência. Porém, se não houver um aumento de policiais civis e militares, não conseguiremos diminuir os índices”, explicou.
O secretário esclareceu que a cidade possui, apenas, dois delegados para resolver os 230 homicídios que ocorrem por dia, além dos 1400 inquéritos que estão paralisados. Ele também ressaltou que a Comarca de Betim possui 1800 processos de crime contra a vida que estão parados e não possui Vara do Tribunal do Juri. Em relação aos menores infratores, ele afirmou que Betim não possui um centro de internação, sendo difícil o acautelamento destes adolescentes.
Ainda segundo o secretário, uma das prioridades do plano é fortalecer as Guardas Municipal e Patrimonial, com novos uniformes, equipamentos e treinamentos, inclusive para o uso de arma de fogo. Ele destacou que a cidade está investindo muito em prevenção social, como prevenção primária, para que os adolescentes não entrem para o crime. Entre as propostas, ele citou o projeto “#recomeçando” direcionado aos adolescentes de 14 a 17 anos que não trabalham, nem estudam e o projeto “Tô ligado” que será implantado nas escolas públicas de Betim, sendo levada informação de forma recreativa. O secretário também informou que é necessária a criação de um Conselho de Segurança Pública (CONSEP) na cidade.
Como ações do Governo para a redução da impunidade e a redução dos índices de criminalidade, Sapori pontuou a criação de mais um batalhão da polícia militar em Betim ou, pelo menos, a curto prazo, mais cem policiais militares; mais um delegado de Polícia Civil; a criação da Vara do Tribunal de Juri, de um Centro de Internação de Adolescente Infrator e de uma APAC com 120 vagas.
Ele também sugeriu um mutirão de delegados e escrivães, de outras cidades, para ajudar na redução do acervo de 1400 inquéritos, como também um mutirão para a redução dos 1800 processos de crimes contra a vida na Comarca de Betim.
Em seu pronunciamento, o coordenador da Defensoria Pública de Betim, Carlos Frederico Rosignoli, também destacou a importância de uma Vara do Tribunal de Juri ou de mais uma Vara Criminal local. Ele também expôs sua preocupação com a questão do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Betim devido à superlotação.
Já o juiz Carlos Frederico Braga da Silva, representante do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), explicou a importância da política de segurança pública na RMBH, com gestão integrada e trabalho em parceria. Ele avaliou que, em razão dos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o TJMG não teria orçamento para a criação das varas solicitadas. “Mas o Tribunal está sensível aos problemas e pode avaliar a realização de um mutirão para julgamento de processos na cidade”, ponderou. Ele ressaltou, ainda, que cada vara de Betim possui cerca de 6.600 processos.
O comandante da 2ª Região de Polícia Militar, Coronel Roberto Lemos, que atende a 18 municípios, afirmou que a cidade teve um aumento de 30% de roubos, sendo 60% roubos de celular. Destas 18 cidades, Betim está no 9º lugar, com um aumento de 25% dos crimes violentos. Ele informou, ainda, que os policiais militares estão demorando, em média, cerca de 10 horas para encerrar uma ocorrência. “Não podemos ficar com uma viatura 10 horas, parada, na porta de uma delegacia, impactando o resto da cidade”, afirmou.
O representante do 2º Departamento de Polícia Civil do Estado, Dr. Valter do Rosário Souza Felizberto, explicou que o motivo da impunidade é a falta de efetivo e condições de trabalho, como estruturas precárias. Segundo ele, o 2º Departamento possui 612 policiais civis em todas as carreiras, totalizando 3,3 policiais por município. “É o primeiro grande problema aliado a impunidade”, disse. Em relação ao mutirão, ele informou que levará a situação ao Chefe de Polícia Civil do Estado.
No encontro, Sargento Rodrigues lembrou que durante as eleições de 2014, a Presidente Dilma Rousseff afirmou que para a União atuar no campo da segurança pública, precisaria enviar uma proposta de emenda constitucional ao Congresso. Segundo o parlamentar, ela esqueceu que o artigo 144 da Constituição da República assegura que segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, principalmente, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal
II - polícia rodoviária federal
Rodrigues esclareceu que o combate ao tráfico de drogas e armas, como também o contrabando é função da PF e PRF. “Estou calejado de dizer a ligação entre o tráfico de drogas tem, não só com o homicídio, mas também com todo tipo de roubo, o que impacta a criminalidade e a violência, uns 15 tipos de crimes”, informou. Ele exemplificou que pequenos furtos são trocados por pedras de crack, maconha e cocaína.
“Onde está a polícia da União? Cadê a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal? Imagino o tanto de drogas e armas que passaram por aquelas rodovias federais. Passa também pela fronteira que é de competência de fiscalização da União”, questionou o deputado Sargento Rodrigues.
Rodrigues lembrou, ainda, que cada 1 quilo de droga que passa pelas fronteiras transforma-se em 3 quilos nas cidades brasileiras. Segundo ele, o maior prejuízo disso é das próprias polícias no aspecto da letalidade policial. Ele destacou, ainda, que a União é omissa no aspecto da segurança pública, além de não encaminhar recursos aos Estados.
Ao final, o deputado Sargento Rodrigues destacou que irá sugerir, através de requerimento da Comissão, que será aprovado na próxima terça-feira, 23/6/2015, que a 1º RPM faça operações conjuntas com a 2º RPM em Betim e seu entorno. O parlamentar também informou que a comissão produzirá um relatório que será enviado a todas as autoridades, mas que ele levará a situação ao presidente do TJMG, ao Secretário de Defesa Social e ao Chefe de Polícia Civil.
Fotos: Guilherme Bergamini/ALMG