Policiais Militares denunciam violações de direitos humanos
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- Criado: Quarta, 26 Fevereiro 2014 15:29
A Comissão de Diretos Humanos realizou audiência pública nesta quarta-feira, 26/2/2014, para ouvir denúncias de violação de direitos humanos praticadas contra policiais militares do 13º Batalhão de Polícia Militar (BPM) e do 44º BPM, que sofreram constrangimentos ao serem presos acusados por crimes que não cometeram.
Em 2012, o Policial Civil, investigador, Thiago Cardoso Burgarelli Castanheira, tentou entrar no “drive-in Chega Mais”, localizado na Avenida Cristiano Machado, com uma mulher sem identificação. Como sua entrada não foi autorizada, ele ameaçou as atendentes, inclusive com arma de fogo. Diante da situação, elas acionaram a polícia militar via 190. As atendentes passaram a placa e as características do policial. Ele foi encontrado no bairro Guarani, mas não quis se identificar, falava apenas que era policial civil. As funcionárias do “drive-in” foram chamadas, o reconheceram e foi dada a ele voz de prisão. Neste momento, o investigador começou a xingar palavras de baixo calão e cuspir nos militares. Segundo os policiais militares, ele aparentava ter ingerido bebida alcoólica, mas não queria ajuda. Ele e as testemunhas foram encaminhadas à delegacia. Depois da entrega do preso ao delegado e 15h de serviço, a guarnição foi embora. Diante desses fatos, os policiais militares foram indiciados por abuso de autoridade e ficaram presos, por 47 dias, sem sequer poderem se defender.
De acordo com o deputado Sargento Rodrigues, não é a primeira vez que há erros do judiciário em relação aos Policiais Militares. “Eu quero manifestar nossa indignação pelos fatos apresentados. É uma decisão equivocada. Os cidadãos esperam mais do Ministério Público”, disse. O parlamentar também afirmou que o Ministério Público será cobrado, pois os policiais militares gozam de todos os direitos e garantias fundamentais. “Ser policial militar não retira esse direito”, afirma. Ainda segundo o deputado, a ação praticada pelo policial civil é muito grave e a permanência dele deve ser avaliada pela instituição.
Ainda segundo Sargento Rodrigues, houve um erro gravíssimo do Ministério Público em decretar a prisão preventiva dos policiais militares sem nenhum zelo por parte deles e do Judiciário, que deveriam antes de decretá-la, pedir novas diligências e conhecer melhor os fatos e todos aqueles que estavam envolvidos para que ficasse claro a conduta e a responsabilidade de cada um.
Segundo o Comandante da guarnição, Sargento Márcio Sady Saad Pereira, todos os policiais militares envolvidos possuem conceito A50, que é o mais elevado dentro do quadro da Polícia Militar, e no período em que ficaram presos nenhum representante do alto comando foram visitá-los. “Sou funcionário da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) há 25 anos e nunca tive punição sempre zelei pela segurança pública e neste período, preso, ninguém do alto comando foi nos visitar”, afirma. Sargento Saad também informou que sua ficha foi fraudada, aparecendo vários crimes que ele nunca cometeu e que o delegado disse que os policiais militares faziam “bico” na porta do “drive-in” e que foram comunicados pelo celular, mas a denúncia foi feita via 190. Saad pediu para quebrarem o sigilo telefônico dos policiais de sua guarnição e fazer perícia em sua arma.
O Corregedor de Polícia Militar, Major Wanderlúcio Ferraz dos Santos, explicou que a Corregedoria da PMMG instaurou inquérito policial, onde ouviram cerca de 20 testemunhas e chegaram a conclusão que a guarnição agiu de forma correta. “O inquérito foi enviado à justiça juntamente com o inquérito da polícia civil e deu esse desenrolar”, explica. Ainda segundo o Corregedor, há uma solidariedade com os policiais militares envolvidos. Ele pediu que eles continuem honrando a farda, sem esmorecer, mesmo encontrando pedras no caminho. “A gente dá todo apoio aos policiais militares quando a gente entende que eles atuaram de acordo com nossa doutrina”, defende.
Já o Corregedor da Polícia Civil, Éder Gonçalo Monteiro Dângelo, afirmou que a Corregedoria não pode agir por ela mesma. “Nós estamos falando de um processo penal. A polícia civil como um todo, não pode, de maneira alguma, instaurar qualquer inquérito policial de ofício. Estamos lidando com provas neste processo e elas não podem ser feitas pela Corregedoria, apenas pela defesa dos policias militares e pelo Ministério Público. Eu lamento por essa situação. Se houve erro, que todos seja corrigidos”, disse.
Durante a audiência pública, o Comandante da 13ª CIA TM, Capitão Waldemiro Gomes de Almeida Filho, se mostrou indignado com a atuação do juiz e do representante do Ministério Público, apoiando os policiais militares. Ele também indagou quais as providências serão tomadas pela Comissão de Direitos Humanos em relação ao caso e as autoridades envolvidas.
A Comissão de Direitos Humanos aprovou requerimentos de autoria do deputado Sargento Rodrigues para que sejam encaminhadas notas taquigráficas ao Juiz da 3ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte e ao Ministério Público e fez um apelo, para que diante desses fatos, seja pedida a abertura de procedimento para apuração pela Corregedoria da Polícia Civil. Também será encaminhado ofício ao Procurador-Geral de Justiça solicitando que a presença de representante do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (CAO/DH) seja garantida quando convidada pela comissão para audiências públicas de violações de direitos humanos de servidores de segurança pública, uma vez que foi registrada sua reiterada ausência nestas audiências.
Ao final, Sargento Rodrigues afirmou que as denúncias de violações de direitos humanos devem ser levadas sempre a comissão e que os policiais militares devem acioná-lo para que ele possa cobrar do Judiciário e Ministério Público. O parlamentar também acompanhará, de perto, as apurações da Corregedoria da Polícia Civil pela gravidade dos fatos.