Policiais femininas denunciam Tenente de Patrocínio por assédio moral e sexual
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- Criado: Quarta, 25 Março 2015 14:50
Violação de direitos e garantias fundamentais, constrangimento ilegal, abuso de autoridade e assédio sexual por parte do 2º Tenente PM Paulo César Pereira Chagas, contra duas policiais militares lotadas no 46º BPM, em Patrocínio, foram discutidos em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira, 25/3/2015.
Durante a reunião, as policiais militares informaram que o oficial as chamaram de sensuais e vagabundas. Os fatos aconteceram de julho a dezembro de 2012 e logo depois começaram as perseguições. Segundo a Soldado Marcela Fonseca de Oliveira, ela foi conversar com o Capitão Vinícius, Comandante da Companhia, sobre a escala de trabalho para que ela fosse inserida em um local menos estressante. Ele a informou que ela já estava disponível para ser transferida para Monte Carmelo ou Coromandel e que não voltaria atrás em sua decisão. Desesperada, por ter um filho e precisar da família para ajudar na criação, a Soldado Marcela procurou o Comandante do Batalhão que não prosseguiu com sua transferência.
Ainda segundo a Soldado Marcela, o Tenente Paulo César trabalhava na sala ao lado da dela e quando ela passava ficava olhando e com “conversinhas”. “Ele falava que eu era uma péssima profissional, que eu era “muxiba” e que eu gostava de dar o “chapéu”. Isso aconteceu várias vezes”, disse. A Soldado informou também que se afastou do trabalho algumas vezes por problemas psicológicos. “Como não cedi aos encantos dele, meu local de trabalho ficou péssimo. Tinha dias que eu fazia um esforço enorme para cumprir meu turno de trabalho”, afirmou.
“O Oficial falava que eu não fazia nada direito e que meus colegas estavam reclamando de mim”, destacou a Soldado Marcela. Ela informou, ainda, que muitos colegas falavam que ela estava sendo observada o tempo todo e que ela era uma ótima profissional e colega de trabalho. Marcela ressaltou que em meados de 2014 recebeu uma comunicação disciplinar, que nem tinha conhecimento, por falta de continência. “Tenho 6 anos de Polícia Militar e nunca deixei de fazer continência”, afirmou. De acordo com a testemunha, Soldado Amanda Valadares Xavier, na época dos fatos ela trabalhava na sede do 46º BPM e lembra quando a Soldado Marcela, chorando, contou para ela que seria transferida. “Eu fiquei triste e chocada porque isso pode acontecer com qualquer um de nós. Não podemos aceitar situações semelhantes”, afirmou.
Já segundo a Soldado Katya Flávia Caixeta de Queiroz, o Tenente Paulo César passava por ela na Companhia e falava que o sorriso dela alegrava o dia dele, o que a deixava constrangida. Além disso, ele tentava conversar com a Soldado através da rede social “facebook”. “Quando eu era casada, um dia meu marido entrou no facebook e ele, achando que era eu, começou a conversar e me “cantar”. Ele foi o principal motivo da minha separação”, explicou.
Em 2014, o Tenente Paulo César realizou uma comunicação disciplinar contra a Soldado Katya por ela ter deixado uma viatura suja. Fato que nunca ocorreu. Como a Soldado reside em Patos de Minas e trabalha em Patrocínio, quando este Tenente foi transferido para Patos de Minas, os colegas de trabalho a alertaram que era para ela ficar atenta quando deslocava para trabalhar, quando saía de casa e até mesmo que ele poderia tentar colocar algo em seu carro para incriminá-la. “Meus colegas me falaram que ele estava indo embora, mas que estava deixando gente para me vigiar”, destacou.
O Tenente-coronel José Roberto Pereira, da Corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais, informou que tomou conhecimento do caso no dia 21/3/2015 e imaginou que seriam recentes. “Para minha surpresa os fatos aconteceram em 2012. Levou muito tempo para ter uma solução e trouxe prejuízo para ambas as partes”, disse. Ele destacou, ainda, que o fato é grave e que se reunirá com o Corregedor da PMMG para analisar os acontecimentos e quais medidas adotar.
Para o deputado Sargento Rodrigues, os fatos são gravíssimos e não se enquadram apenas em transgressão disciplinar. “Não podemos brincar de apuração. A Corregedoria deve abrir inquérito policial urgente”, afirmou.
O parlamentar ressaltou que é autor da Lei Complementar nº116/2011 que dispõe sobre a prevenção e a punição do assédio moral na administração pública, como também na polícia militar e civil e bombeiro militar. “O assédio moral está previsto na Constituição da República e também aplicado na PM. Direitos e garantias fundamentais são cláusulas pétreas e estão na Constituição da República”, explicou. Rodrigues ressaltou o art. 3º da Lei Complementar 116.
Art. 3° Considera-se assédio moral, para os efeitos desta Lei Complementar, a conduta de agente público que tenha por objetivo ou efeito degradar as condições de trabalho de outro agente público, atentar contra seus direitos ou sua dignidade, comprometer sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento profissional.
Sargento Rodrigues esclareceu que quando as policiais militares criam coragem para realizar as denúncias é porque elas não estão aguentando mais. “Quero dizer da minha alegria em ver que elas tiveram coragem de romper com o silêncio. Nós sabemos que isso ocorre constantemente. É uma prática velada, que a luz do dia não se vê”, disse.
Ao final, a Comissão de Direitos Humanos aprovou requerimento, de autoria do deputado Sargento Rodrigues, solicitando ao Comandante-Geral e a Corregedoria da PMMG que ao final das apurações, as conclusões sejam encaminhadas oficialmente a Comissão de Direitos Humanos da ALMG, como também de abertura de Procedimento Administrativo (PAD) e Inquérito Policial (IPM) por parte da PMMG, além de ter convocado o Tenente Paulo César para prestar depoimento na comissão.