Em depoimento à CPI, mais um funcionário da Vale confirma que empresa tinha conhecimento dos riscos de rompimento da barragem, em Brumadinho
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- Criado: Sexta, 02 Agosto 2019 16:42
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho ouviu, nesta quinta-feira (01/08), Moisés Clemente, funcionário da Vale há nove anos. Para os deputados, o depoimento reforça, ainda mais, as evidências de que a mineradora tinha pleno conhecimento dos problemas que haviam na barragem, pelo menos seis meses antes do rompimento.
Dentre as funções desempenhadas por Moisés, estava a operação e manutenção de bomba instalada, da Mina Córrego do Feijão, para retirada da água que acumulava na parte alta da B1, vinda da nascente. Ele confirmou as informações de que, após o rompimento hidráulico ocorrido em junho de 2018, durante a instalação de drenos horizontais profundos - DHP, recomendada pela empresa Tüv Süd, a área foi isolada e uma empresa terceirizada passou cerca de uma semana trabalhando no local. Vários de seus colegas de trabalho foram desviados de função e deslocados para o local, para ajudarem a jogar areia para conter o vazamento de lama, de forma que a água escoasse limpa. Tal determinação chamou a atenção de Moisés, uma vez que, nas Regras de Ouro da Vale, constava ser proibido fazer algo para o qual não estivesse habilitado. Os relatos eram de que a situação seria bem grave, atingindo o nível 10 e que justificaria o acionamento do Plano de Ações Emergenciais - PAEBM, o que não aconteceu.
Moisés contou aos deputados que chegou a participar de uma palestra, ministrada pela responsável técnica da barragem, a engenheira Cristina Malheiros, sobre o PAEBM, mas que não estava presente no dia da simulação de evacuação. Segundo ele, os colegas contaram que foram usadas sirenes de brinquedo, confirmando relatos anteriores já feitos à CPI por outros funcionários. A todo momento, ele citava e questionava a incoerência da empresa que prega, entre seus princípios, “a vida em primeiro lugar”, mas que, em momento algum, zelou pela segurança de seus funcionários e nem das pessoas que viviam ao redor da barragem.
Um fato ainda desconhecido pela CPI foi revelado por Moisés. Meses antes do rompimento da barragem, o refeitório, onde estavam a maior parte das pessoas que morreram soterradas pela lama, foi fechado para reforma e os funcionários passaram a usar outro restaurante, situado em Jangada, maior e muito mais seguro, segundo ele, pois estava fora da área da mancha. Ele afirmou nunca ter sido informado de que, em caso de rompimento, a lama chegaria ao local em 60 segundos.
Sobre o bombeamento de água na barragem, Moisés demonstrou muita preocupação em relação à alteração do volume de água ocorrido antes do rompimento e da alteração no procedimento de escoamento, que não permitia saber para onde a água era jogada; se para a galeria de vasão ou para próximo ao maciço. Ele chegou a voltar ao local e afirma ter encontrado a galeria seca, sem rastro de água, o que aumenta a dúvida se pode ser este um dos fatores que contribuíram para que a B! se rompesse em janeiro deste ano.
O deputado Sargento Rodrigues, vice-presidente da CPI, relembrou o depoimento de Fernando Henrique Barbosa Coelho, que perdeu seu pai, Olavo Barbosa Coelho, soterrado na lama, após dedicar 40 anos de trabalho à Vale. Olavo foi um dos funcionários convocados às pressas, no dia do rompimento hidráulico. “O depoimento do Moisés corrobora com tudo que nos relatou o Fernando e confirma que a Vale montou uma estratégia para esconder a gravidade da situação à época que, pelo que já apuramos, teve grave influência para a instabilidade na mina e consequente rompimento da barragem. A irresponsabilidade e ganância da empresa acabou com a vida de centena de pessoas, destruiu famílias e causou danos irreparáveis ao meio ambiente”, afirmou.
Ao final da reunião, o deputado solicitou que fosse elaborado querimento da comissão cobrando resposta do Ministério Público sobre informações em relação aos TACs assinados pela Vale, solicitadas a mais de dois meses e ainda não enviadas à CPI.
Fotos: Clarissa Barçante - ALMG
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