Respostas evasivas e transferência de responsabilidades marcam depoimento de ex-diretores da Vale à CPI da ALMG

Em mais uma reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito da Barragem de Brumadinho, realizada nesta quinta-feira (04/07), dois diretores afastados da Vale, Silmar Silva e Lúcio Cavalli, mantiveram a postura de blindar a empresa e empurrar para outros setores e pessoas as responsabilidades pela tragédia. Em depoimentos anteriores, eles tiveram o nome citado por funcionários subordinados, que afirmaram que ambos tinha conhecimento de todos os problemas ocorridos na barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, que rompeu no dia 25 de janeiro, matando centenas de pessoas.

O primeiro a ser ouvido foi Silmar Silva, diretor de Operações do Corredor Sudeste. Subordinada a ele estava, dentre outras, a gerência de geotecnia operacional, da qual eram membros Renzo Albieri e Cristina Malheiros, que já passaram pela CPI e que também tiveram seus nomes citados por diversos outros depoentes. A estratégia de Silmar foi negar conhecimento sobre todo e qualquer risco de rompimento da barragem. Ele afirmou, diversas vezes, que o único evento que lhe foi reportado por seus subordinados foi o problema ocorrido em junho de 2018, durante a instalação de drenos horizontais profundos, quando houve a ruptura do 15º. A ação foi uma das medidas de recomendadas pela empresa Tuv Sud, responsável pelo laudo de estabilidade, para aumentar a segurança na barragem. Silmar disse que foi informado por Joaquim Toledo sobre o fraturamento hidráulico, mas já com a afirmativa de que tudo teria sido resolvido. Questionado pelos deputados, não soube responder porque, mesmo com a situação controlada, os geotécnicos suspenderam as perfurações para instalação do 16º e não concluíram o procedimento recomendado pela Tuv Sud.

A postura do depoente, de negar conhecimento sobre tudo que lhe era questionado, indignou os deputados da CPI. “Chega a nos assustar a sua frieza. Parece até que não acompanhou os depoimentos anteriores, nos quais teve seu nome citado diversas vezes, por diferentes funcionários, tanto com cargos subordinados, quanto superiores ao seu, dentre eles, o de Gerd Peter Poppinga. É impressionante como um diretor é tão mal informado sobre setores da empresa que estão sob sua responsabilidade”, afirmou Sargento Rodrigues, vice-presidente da comissão.

O deputado frisou ter lido todos os depoimentos dado por Silmar até o momento e confrontou suas respostas. “Na CPI Federal, fez questão de afirmar que sua gestão sempre teve a segurança como prioridade. Que, inclusive, este era o tema com o qual abria todas as reuniões feitas com as equipes que comandava. Ao mesmo tempo, diz aqui que não tinha conhecimento dos problemas ocorrido em B1, que não lia os relatórios sobre segurança que eram enviados, desconhecia recomendações das empresas auditoras, não conversava com seus subordinados sobre o tema. Sua postura é desrespeitosa, tanto com a comissão, quanto com os familiares das vítimas que aqui se encontram, acompanhando a reunião. Falta-lhe caráter”, ressaltou.

Dentre os fatos que Silmar afirmou não ter sido informado, está a movimentação de 15 mil m² do talude da barragem B1, detectada pelo radar de monitoramento, colhidos em 14 de janeiro por Tércio Andrade. No dia 18, o funcionário responsável por este monitoramento enviou, por e-mail, o relatório de análise com as informações e alerta sobre o deslocamento, detectado 11 dias antes do rompimento da barragem. Os deputados também questionaram sobre os painéis que a Vale realizava e que Silmar participava, com ênfase para o que aconteceu em outubro de 2018, do qual a Mina Córrego do Feijão foi tema. O ex-diretor afirmou que, em nenhum momento, os integrantes do painel fizeram qualquer afirmação quanto aos riscos ou iminência de rompimento da barragem. Além disso, a reunião teve a presença de especialistas que visitaram o local e afirmaram que a estrutura estava seca, que não havia acúmulo de água. Assim, ele acreditou que não havia motivo para e preocupar.

Ao ser perguntado sobre o não acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM), com toque da sirene e evacuação da área, Silmar afirmou que não houve tempo, uma vez que a barragem passou da estabilidade ao rompimento, abruptamente, “sem dar sinais”, informação que indignou a todos os presentes. “Estamos aqui fazendo o que então? Há meses estamos apurando uma sequência de fatos, já comprovados, que deixam claro, até para o mais leigo cidadão, que a barragem B1 tinha problemas de segurança da estrutura e que a Vale, de forma irresponsável, não tomou providências para preservar as vidas de seus funcionários e de todos que poderiam ser atingidos”, interveio Sargento Rodrigues. Para o deputado, não há dúvidas de que houve dolo eventual. “O senhor, e vários outros que por aqui já passaram, são corresponsáveis pelas centenas de mortes e pelos danos irreparáveis causados ao meio ambiente. Já está clara a estratégia de transferir responsabilidades entre setores, de negar conhecimento dos fatos, como forma de blindar a empresa. A Vale pode até pagar os advogados que estão orientando vocês, mas as responsabilidades individuais são juridicamente intransferíveis, após concluídas as investigações”, afirmou o deputado.

O segundo a ser ouvido, Lúcio Cavalli, diretor de planejamento e desenvolvimento de ferrosos e carvão, seguiu na mesma linha, de tentar “escorregar” nas respostas. Sob seu comando, estavam as gerências ligadas à geotecnia corporativa da empresa. Ao ser questionado sobre os problemas ocorridos na Mina do Córrego do Feijão, as respostas foram todas evasivas, ora afirmando não ter conhecimento, ora transferindo a responsabilidade para a área de geotecnia operacional.

 

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