Gerentes da Vale mantém estratégia de blindar a empresa durante depoimento à CPI

A Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o rompimento da barragem de Brumadinho ouviu, nesta quinta-feira (23/05), depoimentos de mais dois funcionários da mineradora Vale: Joaquim Pedro de Toledo, gerente-executivo de Planejamento e Programação do Corredor Sudeste, e Alexandre de Paula Campanha, gerente-executivo de Geotecnia Corporativa. Ambos chegaram a ser presos no dia 15 de fevereiro, por causa das investigações sobre o rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro deste ano. Duzentos e quarenta e um corpos já foram identificados e vinte e nove pessoas ainda estão desaparecidas.

Após quase cinco horas de depoimentos, os deputados da CPI afirmaram estar clara a estratégia de blindagem dos executivos em relação à Vale. Assim como fizeram todos os outros funcionários da empresa ouvidos até agora, Joaquim Toledo e Alexandre Campanha mantiveram a alegação de que não tinham conhecimento do risco de ruptura da barragem e que confiavam no laudo de estabilidade do local. Em suas falas, também prevaleceu a transferência de responsabilidades por atestar a segurança da barragem para outras gerências e setores, repetindo o que fizeram os funcionários já ouvidos pela comissão, de forma a não permitir que níveis hierárquicos superiores, como diretores da mineradora, sejam implicados.

O vice-presidente da CPI, deputado Sargento Rodrigues, repudiou a postura dos convocados. “Causa-me indignação a frieza com a qual vocês respondem evasivamente a todas as perguntas que lhes são feitas. Nas galerias, estão os familiares das vítimas e vocês simplesmente os ignoram. Não têm coragem nem mesmo de encará-los. Ali estão famílias destruídas pela ganância da Vale e vocês, pelos cargos que ocupam, pelos conhecimentos e experiências profissionais que acumulam, são corresponsáveis por este assassinato em massa. Foram e continuam sendo omissos! Já temos elementos suficientes para afirmar que a Vale tinha total conhecimento da instabilidade da barragem e assumiu o risco da ruptura, priorizando os interesses e lucros da empresa”.

Questionados sobre os fatos ocorridos na barragem em junho de 2018, durante a instalação do 15º dreno, exatamente durante procedimento de segurança recomendado pela TÜV SÜD para corrigir problemas identificados pela empresa, ambos afirmaram que os incidentes foram contornados e solucionados imediatamente pela equipe técnica e que, portanto, não demandaram mais atenção.

Joaquim de Toledo foi questionado pelos deputados sobre um e-mail atribuído a ele, no qual se leria “a (barragem) B1 é mais tenebrosa do que se imagina”. Apesar de confirmar a autoria da frase, ele negou que representasse conhecimento sobre os riscos de rompimento. O engenheiro afirmou que escreveu tal e-mail depois de ser informado sobre a existência de um bloco mineral na barragem, mas depois foi esclarecido que tal bloco estava a jusante, e não na estrutura, fato que o teria tranquilizado.

Ao ser questionado pelo deputado Sargento Rodrigues, sobre o que, na opinião profissional e técnica, de quem está há 28 anos atuando como engenheiro na Vale, possa ter provocado o rompimento e porque o plano de segurança não foi acionado, Joaquim Toledo afirmou sentir muito pesar pelo ocorrido. Segundo ele, todos os procedimentos de engenharia, assim como os procedimentos legais estabelecidos pela portaria da Agência Nacional de Mineração foram aplicados e que, sobre as causas, o mais prudente no momento é aguardar a investigação que está em curso e, a partir das conclusões, apontar as responsabilidades devidas. “Pesar sentimos nós, por vocês insistirem em não colaborar com as investigações, mesmo diante de todo o mal que causaram. Espero que ao chegar em casa e encontrarem suas famílias, os senhores se lembrem dos 241 corpos já identificados e dos 29 que ainda estão embaixo daquele mar de lama que a empresa que vocês protegem deixou em Brumadinho,” afirmou Sargento Rodrigues.

Alexandre Campanha foi questionado sobre a declaração dada pelo engenheiro Makoto Namba, em depoimento à Polícia Federal, na qual afirmou ter sofrido pressão da cúpula da Vale, com a citação explicita do seu nome, para assinar o atestado de segurança da barragem de Brumadinho emitido pela TÜV SÜD no ano passado. O gerente afirmou que não soube, em momento algum, que tenha havido pressão comercial neste sentido e negou a acusação.

Sobre a responsabilidade pelo monitoramento e controle das barragens, Alexandre Campanha afirmou ser esta da gerência de Geotecnia Operacional. O deputado Sargento Rodrigues afirmou ser esta resposta mais uma confirmação da estratégia do “jogo de empurra, empurra” orquestrado pela Vale. “Quando ouvidos pela CPI, os funcionários da referida gerência também isentaram o setor que representam de responsabilidade e transferiram para a gerência Geotecnia Corporativa, da qual o senhor Alexandre é membro”, relembrou.

Ao final, os deputados questionaram como a barragem pode ter rompido se estava tudo correto, conforme alegação dos convidados, nas inspeções de segurança. “Parece que estamos realizando CPI para apurar fato que não aconteceu. As inconsistências dos piezômetros foram problemas nos aparelhos, o radar era equipamento complementar e sem relevância, o 15º dreno apresentou problemas, mas não era relevante. Bom, mas, apesar de tudo isso, a barragem matou quase 300 pessoas”, disse o relator da Comissão, deputado André Quintão, lembrando de eventos já citados em outras reuniões como indicativos de problemas. Na mesma linha, o deputado Sargento Rodrigues ressaltou que, desde março de 2017, a barragem B1 dava sinais de que estava se deteriorando, enquanto a Vale fazia vistas grossas ao problema.

Assista ao vídeo:

Voltar
MARCA SR BRANCO1

GABINETE

Rua Rodrigues Caldas, 79 | Edifício Tiradentes
5º andar | Sala 2 | Bairro Santo Agostinho
Belo Horizonte/MG | CEP: 30190-921
Tel: 31 2108-5200 | Fax: 31 2108-5201

Será um prazer receber sua mensagem e agradecemos a sua participação. Aproveite e cadastre-se para receber em seu e-mail as últimas notícias sobre o mandato do deputado Sargento Rodrigues.