Respostas evasivas e transferência de responsabilidades marcam estratégia usada por funcionários para blindar a Vale durante depoimentos na CPI

Três funcionários da Gerência de Geotecnia Operacional da Vale, setor responsável pelo monitoramento das estruturas das minas, prestaram depoimento na CPI da Barragem de Brumadinho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais na manhã desta quinta-feira (16/5/19). Os engenheiros Cristina Heloísa da Silva Malheiros, Artur Bastos Ribeiro e Renzo Albieri Guimarães Carvalho trabalhavam na Mina Córrego do Feijão, que se rompeu em janeiro deste ano. Seguindo a mesma linha dos funcionários do setor de Geotecnia Corporativa, ouvidos na semana anterior, esquivaram-se das perguntas mais diretas, transferiram responsabilidades para outros setores, afirmaram que não foram identificados sinais claros da instabilidade da barragem nos meses anteriores e que se sentiam seguros trabalhando no local.

Os membros da CPI questionaram os três funcionários separadamente. As perguntas trataram especialmente de questões técnicas a respeito, especialmente, de medições e padrões de segurança utilizados e foram pautadas por declarações de convidados anteriores da comissão que apontaram para irregularidades em laudos. Contradizendo os depoentes da semana passada, os funcionários disseram não ser responsáveis por atestar a estabilidade das estruturas, mas sim monitorá-las e realizar interferências recomendadas por outros setores, além de fornecerem as informações necessárias e acompanhar, em campo, inspeções de auditoria.

Para o deputado Sargento Rodrigues, vice-presidente da CPI, orientados por advogados, os funcionários da Vale estão praticando o chamado “jogo de empurra, empurra” e transferindo a maior parte da responsabilidade para o engenheiro Makoto Namba, que assinou o laudo que atestava a segurança da Barragem B1, fornecido pela empresa Tüv Süd, uma vez que todos afirmam que não se sentiam inseguros trabalhando no local porque os laudos emitidos por consultores e auditores garantiam a estabilidade da barragem. O deputado chegou a sugerir que a CPI peça a prisão do engenheiro, registrando, inclusive, que a juíza de Brumadinho determinou o bloqueio dos bens da Tüv Süd.

Cristina Heloísa da Silva Medeiros, a primeira a ser ouvida, afirmou que os repasses feitos em relação à segurança eram de que todos os padrões legais nesse sentido eram cumpridos.“Não cabia a mim discordar dos laudos, a gerência de gestão de riscos que acompanhava isso”, disse. Questionada sobre a necessidade de que o fator de segurança devesse ser maior do que 1,3, segundo padrões consagrados, Cristina Medeiros explicou que a medição diz respeito à condição não-drenada das barragens e que a legislação nacional estabelece como valor mínimo 1 – portanto, a medição de 1,09 encontrada em uma das seções da barragem estaria em conformidade com as normas. Outro funcionário da Vale, Artur Bastos Ribeiro, também confirmou que o padrão estabelecido pela lei é de 1 para o fator de segurança e que isso depende da metodologia utilizada para medição.

Os dois funcionários trabalhavam na área administrativa da Vale que foi coberta pela lama. Cristina Medeiros estava de folga e Artur Ribeiro estava no refeitório no momento do rompimento da barragem. Ele se salvou porque uma caminhonete, também em fuga, parou e deu carona para ele e outros funcionários que conseguiram escapar correndo do refeitório, segundos após ouvirem o estrondo.

Perguntado sobre medições de piezômetros, que teriam indicado anormalidades em medições de colunas d’água dias antes do rompimento da barragem, Artur Ribeiro afirmou que ficou claro, na planilha recebida por ele no dia 23 de janeiro, que houve erro na anotação dos dados e não necessariamente alteração das variáveis que estavam sendo medidas. A automatização dos medidores, que estava em fase de implantação, estaria na origem dos erros, de acordo com ele. O engenheiro explicou que as medidas que constavam na planilha não eram fisicamente possíveis e, por isso, foram considerados como equívocos na anotação dos resultados.

Outro ponto abordado pelos parlamentares foram indicações que drenos estariam entupidos e que havia liquefação na barragem, situações que teriam sido identificadas ao longo de 2018. O gerente da área de geotecnia, Renzo Albieri Guimarães Carvalho, afirmou que foram problemas pontuais que acabaram resolvidos com intervenções na estrutura. Após tais intervenções, houve a constatação de que as questões tinham sido superadas e por essa razão não houve comunicação à Agência Nacional de Mineração e outros órgãos sobre os problemas.

As respostas evasivas dos depoentes irritou o deputado Sargento Rodrigues. “Por várias vezes, foram solicitados nomes das pessoas responsáveis pelos atos e procedimentos e eles exitam em fornecer; falam em equipes, setores, técnicos. Eles se emocionam ao lembrar dos colegas de trabalho que morreram, dos momentos de terror vividos, mas não têm coragem de nominar os verdadeiros responsáveis. Não conseguem, nem mesmo, olhar para os familiares que acompanham a reunião, na galeria deste plenarinho, e para as fotos e nomes daqueles que ainda estão soterrados naquele mar de lama, assassinados pela ganância da Vale, sob a corresponsabilidade de vocês, que detinham competência para questionar os laudos e procedimentos e não o fizeram”, afirmou o deputado.

Os parlamentares salientaram que, de acordo com os depoimentos já ouvidos pela CPI, seria impossível um rompimento de barragem sem que fossem observados sinais disso com antecedência, afinal, uma barragem não rompe da noite para o dia. Está claro que a Vale sabia do risco e que fez a opção financeira de assumi-lo, já que a outra opção era a total paralisação das atividades na Mina do Feijão, o que representaria um prejuízo muito maior. A estratégia de blindar a mineradora foi classificada como perigosa, pois leva para o caminho de inocentar os que tomaram as decisões e joga toda a responsabilidade sobre os técnicos.

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