Homicídio do Cabo Vaneli é uma constatação do aumento do crime e da violência em Ilicínea
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- Criado: Quinta, 19 Outubro 2017 14:44
Os altos índices de criminalidade do município de Ilicínea, localizado no Sul de Minas, foram discutidos na manhã desta quinta-feira, 19/10/2017, na Câmara Municipal da cidade. A audiência pública foi realizada pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) devido ao assassinato do cabo da PM Fabrício Renato Vaneli, de 38 anos, no dia 22/9/2017.
No início da reunião, o deputado Sargento Rodrigues, Presidente da Comissão, informou que também foi provocado pelo ex-vereador Joaquim Pintor e pelo ex-vice-prefeito, Adilson Pires, os quais afirmaram que a situação da segurança pública em Ilicínea deve melhorar, principalmente em relação às deficiências da polícia militar, da polícia civil ou de qualquer outro órgão que compõe o aparato de justiça criminal.
Rodrigues afirmou, ainda, que está cobrando, constantemente, através da Comissão de Segurança Pública, aprovando requerimentos, fazendo audiências públicas, mostrando claramente o tanto que a polícia civil como a polícia militar estão completamente abandonadas e sucateadas. “O fato é que os servidores da segurança pública em Minas Gerais estão abandonados. Estamos cobrando, constantemente, seja através de visitas no interior do estado, nos destacamentos, pelotões, delegacias ou através da comissão de segurança pública. Essa é uma realidade! Temos destacamentos da polícia militar com um policial trabalhando sozinho, como nos municípios de Aguanil, Santana da Vargem, Santana do Jacaré e Cana Verde, que pertencem a 6ªRPM, o que “joga por terra” mais de dois séculos de doutrina ensinada pelos coronéis da polícia militar tratando da supremacia de força. Um policial militar responder pelo destacamento é entregar o companheiro a própria sorte, entregar o companheiro de bandeja para o crime. Vamos continuar denunciando, cobrando e exercendo controle do Poder Executivo, que é o nosso dever enquanto parlamentar”, concluiu.
De acordo com o ex-vereador Joaquim Pintor, hoje os moradores de Ilicínea vivem presos em casa porque se o portão ficar aberto, as pessoas se preocupam com a entrada de bandidos em suas residências. Além disso, ele fez alguns questionamentos às autoridades presentes. “Por que nós tivemos um pente fino só depois da morte do Cabo Vaneli. Por que isso não aconteceu antes? Por que teve que esperar falecer tanta gente? Na zona rural, não estamos estocando adubos, apenas comprando à vista porque podemos ficar sem eles e só com a duplicata na mão. Hoje, a polícia anda de fusquinha e os bandidos de caminhonete. É um apelo que faço como pai, como cidadão. Eu me sinto preso dentro de casa”, perguntou.
Durante a audiência, o comerciante, Eduardo, também irmão da Giovana, que foi assassinada há cerca de um ano, fez um apelo. Segundo ele, toda população ilicinense tem visto o que aconteceu com a morte da sua irmã, de um outro rapaz que também foi assassinado e agora do policial militar. “Não temos mais segurança na cidade. O povo de ilicínea quer saber quais os recursos que a cidade pode ter”, disse.
Já o agricultor, Weister Resende, afirmou que a cidade está precisando de efetivo da polícia civil e militar, como investigadores, pois a população fica sem ter a quem recorrer.
“A minha reivindicação é um anseio da população. No dia 30/12/2014, às 23h, fui vítima de três assaltantes na minha casa. Estava indo da cidade para casa e os assaltantes vieram contra a minha pessoa e a minha esposa, de revólver embicado em mim e nela. Isso foi o dia mais triste da minha vida. O assaltante levou a pasta com o dinheiro das sete pessoas que tinham pagado a passagem para Brasília, que estava comigo, como também quatro pacotes de remédios que combatem as pragas do café”, relatou o secretário da associação da comunidade rural de Ilicínea.
O Presidente da Associação Fruticultura, Valdeci Souza, informou que quando o tema é segurança, esse é um direito de todo cidadão. “Seria possível divulgar telefone de uma ouvidoria? Porque assim cada cidadão vai cobrar aquilo que não tá legal. Quanto à segurança do município de Ilicínea, hoje é comercializado armas brancas, facas, mas a Polícia Militar vem fazendo o trabalho dela à medida do possível”, ressaltou.
O Presidente da Associação dos Profissionais de Segurança Pública do Sul de Minas (APROSEP), Valério, questionou às autoridades presentes em relação ao efetivo da cidade, como também viaturas e equipamentos.
Na ocasião, o irmão do cabo Vaneli e advogado, Tiago, perguntou quais serão as medidas efetivas tomadas na cidade, como também quando será possível destinar um investigador para o município. “As polícias militar e civil devem atuar em conjunto com a justiça, pedindo liminar e mandados de segurança, para invadir as bocas de fumo da cidade, rotineiramente, para prender os bandidos. Hoje, em Ilicínea, o tráfico de drogas virou um comércio”, afirmou.
Segundo a mãe do Cabo Vaneli, Neuza, todos estão citando o nome do Cabo Vaneli e da Giovana, mas esqueceram do rapaz que foi morto na roça. “Ninguém lembra que ele morreu, que ele foi sacrificado também e ninguém sabe o porquê. Onde está o assassino? A polícia está uma vergonha. Sabe há quantos anos está vencida a placa do colete do meu filho? Há três anos. Nunca foi trocada. Sabe em quantas vezes o meu filho está recebendo o salário parcelado? Em duas vezes. É uma miséria, para dar a vida dele lá e hoje nós estarmos aqui nesse sofrimento. Não sei se todos que estão aqui tem filhos, mas o meu coração está partido. Porque se não fossem meus outros filhos, eu teria morrido com ele, mas eu tenho que criar os filhos dele”, destacou. Ela afirmou, ainda, que um dia o policial estava em Santo Antônio, a viatura deu problema e ele ligou pedindo ajuda para buscá-lo.
“Se vocês não tiverem jeito de mudar, o que nós vamos fazer? Vamos entregar a chave da cidade para os bandidos e que ninguém mais faça curso de polícia, porque hoje eu estou chorando a morte do meu filho e amanhã quem sabe eu chorarei a morte de outro filho? Porque a nossa cidade está uma vergonha”, completou a mãe do Cabo Vaneli.
Cobrado e questionado durante toda a audiência pública sobre quais as medidas serão tomadas na região em relação a logística, ao efetivo e as operações no dia a dia, o comandante da 6ª RPM, Cel. PM Giovani de Sousa Silva, afirmou que a polícia militar trabalha pautada na legislação. “Hoje o nosso trabalho, ou melhor, “retrabalho” é por causa da legislação. Sendo assim, o nosso dia a dia fica prejudicado por conta dessa legislação branda, que faz com que a polícia militar, a polícia civil e os demais órgãos de segurança pública trabalhem de forma a não atender o clamor social e institucional”, disse.
Já o delegado Regional de Polícia Civil em Varginha, Roberto Alves Barbosa Júnior, informou que o momento é muito oportuno, pois é uma forma que a população tem de tentar mostrar aquilo que está realmente incomodando, como também tudo que o Governo precisa prestar mais atenção. “É de conhecimento da Chefia da Polícia Civil e da Superintendência da Polícia Judiciária, a carência de policiais em Ilicínea, mas infelizmente nosso efetivo é pequeno. Eu digo que quando eu entrei na Polícia, há vinte anos atrás, o efetivo diminuiu para mais da metade do que é hoje, então é uma conta que não vai fechar nunca. Se a população aumentou, como nós vamos combater a criminalidade?”, questionou.
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