Alunos, pais e professores pedem que aulas no turno noturno sejam mantidas na Escola Estadual Ordem e Progresso
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- Criado: Sexta, 13 Novembro 2015 17:44
A Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou na última quinta-feira, 12/11/2015, audiência pública a pedido do deputado Sargento Rodrigues e do presidente da comissão para ouvir alunos, professores, pais e autoridades sobre a polêmica do encerramento das aulas no período da noite na Escola Estadual Ordem e Progresso.
Representantes da Secretaria de Estado de Educação negaram que o Estado tenha determinado o encerramento do turno noturno da Escola Estadual Ordem e Progresso em Belo Horizonte ou em qualquer outro estabelecimento de ensino em Minas.
De acordo com o superintendente de Ensino da Metropolitana B, Webster Silvino de Oliveira, a resolução que trata do fim das aulas no período da noite na escola é do governo anterior, mas está sendo revista e pode ser revertida. Ele explicou que a diretriz do atual governo é de ampliação do atendimento aos estudantes. “Não existe intenção de acabar com turnos de educação. Temos uma campanha que pretende atrair 160 mil jovens para as escolas do Estado. Seria até incoerente”, disse. O gestor afirmou, ainda, que existem problemas de estrutura física, mas que a secretaria irá solucioná-los ao longo do tempo.
Segundo o assessor da Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação, Ermelindo Martins Caetano garantiu que o atual governo trabalha pela ampliação do turno noturno. De acordo com ele, o processo de encerramento da oferta no Ordem e Progresso vem do governo anterior e há vontade que o cenário seja revertido. “A atual gestão comunga da necessidade de trazer os alunos para a escola, inclusive no turno noturno. Estamos abertos ao diálogo e queremos construir uma solução. Ainda dá tempo”, afirmou.
Já o diretor da Escola Estadual Ordem e Progresso, Aci Alves dos Santos, afirmou que a demanda é antiga, mas que sempre posicionou aos professores que a decisão não é da Polícia Civil e sim do Estado. Disse ainda que a estrutura física do colégio precisa ser modernizada e que laudos técnicos elaborados neste ano mostram a necessidade de fazer adequações para dar segurança dos alunos. “Estamos em diálogo com as instituições competentes, mas é preciso garantir uma estrutura que dê segurança aos estudantes, em especial do período noturno”, explicou.
O chefe da Divisão Psicopedagógica da Acadepol, Marcelo Carvalho Ferreira, também disse que nunca teve a pretensão de acabar com o turno noturno na Escola Ordem e Progresso. Afirmou que o que vem sendo feito segue determinação da Secretaria de Educação e destacou que a estrutura da escola está deteriorada.
O diretor do Instituto de Criminologia da Acadepol, Jorge Ribeiro, reforçou que a carência estrutural na parte elétrica da escola, assim como no efetivo policial, representam risco à segurança dos alunos. Em sua participação, colocou-se ao lado dos estudantes ao dizer que não tem a intenção de encerrar o
turno noturno, desde que proporcione segurança a todos os que frequentam a escola.
Posicionamento entre professores e alunos divergem dos representantes da polícia civil
O professor de filosofia, Thiago Lott, que leciona para turmas dos turnos da manhã e noite há três anos no Colégio Ordem e Progresso afirma que as aulas do turno noturno não podem ser encerradas.
Thiago ressaltou que o colégio é destaque em excelência e qualidade e desenvolve um papel muito importante no processo de formação dos alunos. "A escola é importante para os alunos por ser de excelente qualidade, diferente das escolas do entorno do Ordem e Progresso. Para comprovar temos dados da prova do Enem, nós temos premiações de matemática, física e ex-alunos que fizeram medicina na UFMG fazendo doutorado e mestrado fora", pontuou.
Sobre a alegação de ausência de estrutura técnica por causa da fiação o professor acredita não existir esta preocupação, tendo em vista que a escola funciona normalmente em outros dois turnos. “A demanda também não aumenta no noturno, uma vez que a escola funciona nos outros dois turnos com luz acesa, ventilador ligado, então não existe nenhuma justificativa para este aumento de carga elétrica à noite”, esclareceu.
Para Thiago a pergunta que professores e alunos deixa às autoridades, considerando a necessidade de atender a sociedade é, se parece melhor a Polícia Civil correr atrás dos alunos quando estiverem no tráfico de drogas, no uso de drogas, no roubo, na criminalidade?”
"Porque a escola consegue criar bons alunos, gerar bons profissionais, boa educação. Acabando com o noturno eles vão acabar sendo encaminhados para escolas onde, infelizmente, não vão conseguir assistir aula. Os professores vão ser reféns da violência escolar. Acho que não é preciso explicação, os jornais mostram isso todos os dias" concluiu.
A aluna Izabela Rocha de Souza, 19 anos, do 3º ano do ensino médio afirma que as aulas da Escola Estadual Ordem e Progresso, no período da noite, precisam ser mantidas, principalmente, pelo fato de muitos jovens que estudam no turno noturno trabalharem durante o dia.
“Eu acho que o noturno deve continuar. Ele é importante para os alunos que trabalham durante o dia. A Escola Ordem e Progresso é referência, com ensino muito bom, com professores excelentes que se importam com o futuro dos alunos. É importante pra gente”, disse.
Para a aluna do terceiro ano do ensino médio, Brenda Lorrayne, as aulas noturnas na escola são essenciais para a formação dos jovens, que assim como ela, necessitam trabalhar durante o dia. “Eu estudei à noite durante dois anos e meio e foi muito importante porque tinha que trabalhar durante o dia e ir para a escola à noite. Então se não fosse a oportunidade do noturno na escola Ordem e Progresso eu não teria a educação que tenho hoje, não saberia a responsabilidade que carrego na sociedade.
Em tom de apelo, a jovem Brenda enfatizou que o noturno na Escola Estadual Ordem e Progresso não pode ser fechado. “Foi muito importante pra mim e tenho certeza que será para outras pessoas também”.
“Eu vou me formar na certeza de que a escola que estou hoje e que vai ficar para os meus filhos, meus irmãos no futuro é uma escola de qualidade, segura, com ótimos professores e educação”, finalizou a estudante.
Após ouvir o posicionamento das autoridades e todos os convidados presentes, o deputado Sargento Rodrigues afirmou que os argumentos utilizados pela direção da polícia civil e da escola são muito frágeis.
Para o parlamentar se a parte elétrica não está em condições para a noite, também não está para os turnos da manhã e da tarde. “O chefe da polícia civil, Dr. Wanderson precisa repensar isso, pois sabemos perfeitamente que esta imposição e restrição está vindo da chefia da polícia civil”, ressaltou Rodrigues.
De acordo com o parlamentar o turno noturno oferta vagas para alunos de famílias mais necessitadas e não pode acabar. “Eu mesmo vivi essa situação. Fui morador do Bairro Cabana, Nova Gameleira, na Vila Oeste. A localização deste colégio facilita muito para os alunos que trabalham durante o dia, que são arrimo de família e precisam estudar à noite. Como você vai tirar desses alunos essa possibilidade? Isso traz um prejuízo enorme para ele do ponto de vista educacional e para a família que é afetada diretamente”, enfatizou.
Encaminhamentos
A Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) aprovou diversos requerimentos com pedidos de providência aos órgãos do Estado e de visita técnica à Escola Estadual Ordem e Progresso com a presença de representantes do Estado, do Corpo de Bombeiros e do Crea. Foi solicitado ainda que a Secretaria de Educação realize estudos que indiquem se existem riscos físicos e estruturais à vida dos alunos, em especial do turno noturno.
O deputado Sargento Rodrigues solicitou que a Consultoria da ALMG envie o relatório da reunião para o chefe da Polícia Civil, a Secretaria de Educação e ao governador do Estado cobrando solução para o assunto discutido na audiência pública.
Wagner Ribeiro Barbosa (diretor do Instituto de Criminologia da Acadepol), Marcelo Carvalho Ferreira (chefe da divisão psicopedagógica da Acadepol), Aci Alves dos Santos (diretor da Escola Estadual Ordem e Progresso)
Foto: Ricardo Barbosa/ALMG