Repórter e cinegrafista do Centro-Oeste mineiro denunciam suposto crime de cárcere privado e liberdade de imprensa
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- Criado: Terça, 30 Junho 2015 16:29
Os parlamentares da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discutiram, nesta terça-feira, 30/6/2015, as ameaças e denúncias de cárcere privado e de atentado à liberdade de expressão sofridos pela jornalista Nayara Lopes e pelo cinegrafista Yan Dmasoyy, profissionais da TV Candidés, da cidade de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, no dia 11/3/2015, após entrevista realizada com a Secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo, na Escola Estadual Monsenhor Domingos.
Durante a reunião, a repórter Nayara Lopes informou que quando chegou a escola, no dia 11 de março, foi abordada por Yara Viana, Diretora de Diversidades, a qual acompanha a secretaria, que a questionou se tinha pauta e se havia feito protocolo. Nayara afirmou que não tinha pauta, que queria cobrir o evento e entrevistar a secretária. A reportagem foi autorizada e realizada, mas ao final pediram que apagassem a entrevista. “Fiz três perguntas, na terceira ela disse que nada teria sido feito nos anos anteriores sobre o assunto e pediu para gravar de novo porque a fala ficou muito forte. Nós íamos gravar, mas a própria Yara disse que podíamos editar e concordamos. No final da entrevista, depois que a secretária não estava mais perto, a Yara e a Daniela falaram que agimos de má-fé porque não fizemos o tal protocolo e começaram a nos ameaçar, dizendo que se não apagássemos, iam chamar os policiais a paisanos que estavam na escola”, contou.
Segundo a repórter Nayara Lopes, ela e o cinegrafista Yan DMasoyy ligaram para o diretor de jornalismo da TV Candidés, Flaviano Cunha, que orientou a não apagar as imagens e a entrevista. “O Flaviano disse que ninguém podia mandar a gente apagar as imagens e orientou a gente a ir embora. Já as assessoras, Yara e Daniela, nos ameaçaram dizendo que se não apagássemos, podíamos responder judicialmente”, esclareceu Yan DMasoyy.
O cinegrafista explicou, ainda, que o diretor da escola, Kleuver Luiz Alves Mota, fechou o portão e disse que precisávamos conversar. “Quando tentei sair, veio um homem, gritando que era policial e me empurrou”, afirmou. Ele informou que ficaram de 11h30min até por volta de 13h impedidos de sair, esperando o diretor de jornalismo da TV Candidés chegar, o que configura o crime de cárcere privado. A repórter acredita que isso aconteceu devido ao despreparo das assessoras que acompanhavam a Secretaria.
De acordo com o diretor de jornalismo da TV Candidés, Flaviano Cunha, a assessora responsável, Yara Viana, informou que a equipe sairia do local apenas com sua presença. Ele também informou que está levando o caso a público para alertar as demais emissoras. “É um absurdo uma equipe de televisão ser cerceada e presa em um estabelecimento de ensino até que o diretor da emissora chegasse ao local. Eles alegaram que não teria sido cumprido o protocolo de entrevista, que se trata de envio das perguntas para a secretaria para análise”, enfatizou.
A repórter lembrou, ainda, que o ex-Secretário Municipal do Meio Ambiente, Humberto Pozzolini, do PT, acompanhou tudo e ficou ridicularizando a equipe, dizendo que eles não sabiam apagar uma reportagem, querendo ensinar o cinegrafista como mexia na câmera, tentando apagar a entrevista. Segundo ela, ele exerceu tanta pressão psicológica que ela começou a chorar.
Sobre a situação, o diretor da Escola Estadual Monsenhor Domingos de Divinópolis, Kleuver Luiz Alves Mota, negou sua participação. “Em momento algum eu presenciei atos de violência. O caso aconteceu no pátio da escola e não teve portão fechado, pois entrava e saía pessoas o tempo todo. Eu apenas encostei o portão por um breve momento e disse que precisávamos de conversar”, disse. Ele ainda ressaltou que estava recepcionando a secretária e que existe um procedimento de segurança da escola em que o portão permanece fechado.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Kerison Arnóbio Lopes Santos afirmou que este foi um atentado grave de liberdade de expressão. Ele informou, ainda, que o sindicato recebeu a denúncia, analisou o caso e soltou uma nota sobre o caso. “Não existe isso de apagar a entrevista uma vez dada. É algo que não pode ser considerado normal. Que isso não se repita”, destacou.
A chefe de Comunicação da Secretaria de Estado de Educação, Carla Kreefft, esclareceu que no dia que os fatos ocorreram, a secretaria não possuía assessoria de comunicação me que ela assumiu o cargo um mês depois. Ela lamentou o ocorrido e afirmou que o que aconteceu foi um equívoco. A assessora também não confirmou todos os fatos relatado e confirmou que havia um militar à paisana naquela data, chamado tenente Hélcio. “O militar nos negou qualquer agressão física e ainda teria oferecido o registro do boletim de ocorrência a ambas as partes, que negaram”, destacou.
Para o deputado Sargento Rodrigues, Presidente da Comissão de Segurança Pública, o diretor foi acusado de algo grave, que seria o crime de cárcere privado, quando impediu a equipe de sair da escola de 11h30min até por volta de 13h. O parlamentar também enviará as notas taquigráficas da reunião para a promotoria de Justiça de Divinópolis pedindo o esclarecimento dos fatos.
Durante o debate, Sargento Rodrigues leu um ofício enviado pelo Comandante do 23º BPM, Marcelo Carlos da Silva, endereçado ao diretor da TV Candidés informando que foram designados dois agentes de inteligência, com o objetivo de monitorar o local devido a previsão de manifestação pública. Segundo o documento, uma assessora da Secretária acionou os policiais que estavam a paisana informando que uma equipe de jornalistas da TV Candidés teria adentrado a sala de entrevista, não se identificando a quem de direito e realizado uma entrevista indevida com a Secretária. “Vou pedir providências ao Ministério Público quanto ao ocorrido, assim como solicitar ao comandante da PM, ao corregedor-geral e ao procurador-geral que não permitam a escalação de policiais para serviço de inteligência nestes casos”, esclareceu Rodrigues.
O parlamentar ainda explicou que a situação é muito grave e questionou o que eles foram monitorar no local. “Monitoramento para quê? É muito mais grave do que imagino. Este documento alerta que a polícia militar tem que entender que não dá para fazer monitoramento destas coisas”, ressaltou.
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