Moradores do entorno do Mineirão são empurrados com a barriga pela Prefeitura de Belo Horizonte
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- Criado: Quarta, 29 Abril 2015 17:47
Os moradores do entorno do Estádio Governador Magalhães Pinto, “Mineirão”, cobram, novamente, soluções para acabar com a baderna nos bairros próximos ao estádio em dias de jogos. Eles reclamaram da presença de "flanelinhas", vendedores ambulantes ilegais, ausência de sanitários químicos, churrasco nas portas das residências, como também necessidades fisiológicas. Entre as soluções, foram sugeridas o retorno do perímetro do padrão FIFA, utilizado na Copa do Mundo, o retorno da venda da bebida alcoólica no interior do estádio, a divulgação das vagas do estacionamento interno do estádio e o retorno dos barraqueiros na esplanada do Mineirão. O tema foi discutido durante audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento do deputado Sargento Rodrigues, nesta quarta-feira, 29/4/2015.
Durante a reunião, o deputado Sargento Rodrigues lembrou que a Comissão de Segurança Pública já discutiu o assunto no dia 3/12/2014 e que depois de quase 5 meses, os problemas dos moradores continuam. O parlamentar também mostrou um vídeo feito pela equipe da ALMG nas ruas próximas ao Mineirão no dia 26/11/2014, antes do jogo da final da Copa do Brasil, entre Cruzeiro e Atlético Mineiro. Neste dia, os torcedores começaram a estacionar às 14h. Sargento Rodrigues deixou claro o péssimo comportamento dos torcedores. “Eles urinam e defecam nas ruas, estacionam nas entradas de garagens, nas esquinas e fazem churrasco em frente aos portões sociais das residências”, disse. Ele afirmou, ainda, que a inserção do padrão FIFA resolveria todos os problemas. “O padrão FIFA foi uma decisão unânime no final da audiência em dezembro do ano passado. Ele resolve todos os problemas da população do entorno do Mineirão”, disse.
Sargento Rodrigues afirmou, ainda, que, como deputado, morador e conhecedor dos problemas, não pode deixar de cobrar providências das autoridades. “Nós não vamos deixar de cobrar que os órgãos municipais. Eles não estão fazendo o que deveria ser feito. A Bhtrans poderia ajudar muito mais”, afirmou. Ele também esclareceu que a utilização da esplanada do Mineirão por barraqueiros resolveria uma parcela dos problemas.
Rodrigues destacou que quando o espaço urbano não é fiscalizado, ele tende a virar a casa da “mãe Joana”, o que tem acontecido no entorno do estádio em dias de jogos. O parlamentar explicou que antes da reforma do estádio, não havia este problema devido ao estacionamento ser permitido no entorno. Hoje, com a proibição, há uma sobrecarga nos bairros próximos, como São José, São Luiz e Bandeirantes.
Sargento Rodrigues explicou que os representantes da Associação Pró-Civitas, dos bairros São José e São Luiz, falaram que durante o policiamento ostensivo, os policiais militares presenciam pessoas urinam nas ruas e nada fazem.
Em relação a esta questão, o Comandante da 17ª Companhia e do 34º BPM, Major Fábio Oliveira Almeida, informou que em dias de jogos e eventos, a Companhia recebe policiais de outras unidades para compor o policiamento, que eles presenciam atitudes erradas por parte dos cidadãos e realmente não tomam atitudes. Segundo o comandante, os policiais militares que vem de outras unidades precisam de treinamentos e orientações para que isto não ocorra.
Sargento Rodrigues destacou que as polícias, como agência estatal, tem o maior poder coercitivo para a organização da ordem pública. Ele lembrou, também, que nestes dias, o policiamento ostensivo é realizado pelo Comando de Policiamento Especializado (CPE), Batalhão de Policiamento Especializado (BPE) e pela Cavalaria (RCAT).
De acordo com o Major Fábio Oliveira Almeida, o entorno do “Mineirão” possui um policiamento específico e que a polícia militar tem ciência de todos os problemas, como os referentes aos cambistas, “flanelinhas” e cidadãos urinando em vias públicas. “Contamos com todas as entidades para que consigamos resolver estes problemas no entorno do Mineirão”, disse. O Major também afirmou que a polícia militar tem desenvolvido ações de fiscalização de trânsito para coibir parte dos estacionamentos irregulares no entorno do estádio. Ele também informou que tem recebido, por meio de um número de whatsapp, demandas e reclamações de moradores.
Já o Secretário Municipal de Administração Regional da Pampulha, José Geraldo de Oliveira Prado, se compromissou, por parte da Prefeitura de Belo Horizonte, em construir uma solução o mais rápido possível. “Nos comprometemos a se tornar o centro articulador de uma solução”, disse. Segundo o secretário, o assunto sempre está na pauta da Secretaria e foi enviada uma proposta a Minas Arena, responsável pela concessão do Mineirão, para a criação de uma feira, de um espaço de convivência, na esplanada do estádio, com o retorno dos vendedores de comidas e bebidas para esse espaço, o que atrairia o torcedor para dentro do estádio mais cedo.
Outra proposta feita pelo secretário, seria a venda antecipada de vagas de estacionamento, uma vez que sobram vagas dentro do estádio. A terceira sugestão seria que a Minas Arena sinalizasse, através de letreiros, nas avenidas que dão acesso ao estádio, como a Avenida Presidente Carlos Luz, sobre a existência destas vagas dentro do Mineirão.
José Geraldo também destacou que deveria haver um incentivo da utilização do transporte coletivo. “Neste caso, ele seria utilizado pelos torcedores se não houvesse vagas para estacionar”, explicou.
Ainda segundo o secretário, é importante estabelecer um acordo para que os comerciantes não vendam bebidas alcoólicas, em garrafas, no entorno do estádio.
Por fim, ele esclareceu que há construção de uma normatização na Prefeitura que proíbe a realização de churrascos nas calçadas, em espaço público. “Temos uma minuta em andamento que está em análise pela área de Governo do município”, destacou.
Segundo o deputado Sargento Rodrigues, a prefeitura está ajudando muito pouco os moradores neste processo. “Levei os representantes da Associação Pró-Civitas, em julho, para uma reunião com o prefeito, relatei tudo, entreguei ofício e até hoje nada foi resolvido”, ressaltou. Para o deputado, a prefeitura está muito lenta e não trouxe, até hoje, ações concretas.
Para o vice-presidente da Associação Pró-Civitas, Claude René Camille, a situação está caótica e os moradores estão sendo desrespeitados. Ele informou, ainda, que quando ocorre uma prisão em flagrante, no entorno do estádio, uma viatura com dois policiais militares levam o detido até a Ceflan, localizada no bairro Floresta. Segundo ele, se há uma delegacia de eventos dentro do Mineirão e a ocorrência deveria ser feita nela. “Os policiais já são poucos, ainda levam dois para ficar 14 horas em uma delegacia. Esta situação é um absurdo”, afirmou.
Ainda segundo o vice-presidente da Associação Pró-Civitas, é necessário reforçar a moral do poder público municipal para que realizem mais fiscalizações. Ele também destacou que é preciso que os jornais divulguem o que é permitido fazer naquele entorno.
O delegado de eventos da Polícia Civil, Felipe Falles, explicou que não tem conhecimento que as ocorrências estariam sendo encaminhadas para a Ceflan, no bairro Floresta, e que a polícia civil possui a melhor estrutura do Estado em termos de delegacia de eventos. Segundo ele, o encaminhamento para fora da delegacia só acontece em casos específicos. Já o Major Fábio confirmou que o procedimento tem sido adotado nas ocorrências verificadas no perímetro externo do estádio.
Sobre o assunto, Sargento Rodrigues destacou que está havendo um ruído na comunicação entre as polícias, o que não pode acontecer, pois elas têm que ser unidas. Ele solicitou que o Major Fábio encaminhe todas as ocorrências, internas e externas, para a delegacia de eventos, localizada no interior do estádio. “Eu faço um enorme apelo para que os policiais tenham como inimigos apenas os criminosos. Nós precisamos proteger nossa sociedade. Faço este apelo em nome do povo”, destacou.
Já o diretor de Meio Ambiente da Associação Pró-Civitas, Fábio Souza Melo, defendeu que as ruas dos bairros São José e São Luiz sejam fechadas em dias de jogos e eventos. “Eu não vejo outra alternativa. Isso foi o que ocorreu na Copa do Mundo. Temos que tomar uma decisão, pois estamos há dois anos na mesma situação”,afirmou.
A gerente de ação regional Noroeste Pampulha da BHTrans, Maria Inês Franco, afirmou que foram adotadas ações de trânsito e de transporte, garantindo o acesso dos moradores a suas residências. Segundo ela, um dos compromissos firmados pela Bhtrans, na reunião realizada em dezembro, foi a proibição do estacionamento de veículos maiores como vans, micro-ônibus e caminhões, sendo liberado o estacionamento em apenas um dos lados das vias para veículos leves. Ela informou que, de fevereiro a abril, período em que foram realizados seis jogos no Mineirão, foram registradas 29 autuações com remoção de veículos, de um total de 180 autuações feitas pela Polícia Militar. Esta sinalização definitiva no entorno do Mineirão já começou a ser implantada, mas, apenas, no bairro São José.
Ainda segundo a gerente de ação regional Noroeste Pampulha da BHTrans, o órgão tem incentivado o transporte coletivo. “Há uma faixa direto para o MOVE. Os torcedores desembarcam a menos de 300 metros das catracas do Mineirão”, disse.
Para Rodrigues, a Bhtrans é muito resistente e não cede as cobranças da população. Ele fez um apelo para que o Secretário Municipal de Administração Regional da Pampulha e a Bhtrans reúnam-se com o Prefeito e consiga uma resposta concreta. O parlamentar solicitou que a Bhtrans também refaça uma análise e reavaliação, como também que o poder público tome as providências com mais celeridade.
Ao final, Sargento Rodrigues apresentou requerimentos para que a Bhtrans faça nova reavaliação para analisar a possibilidade de permitir o estacionamento no entorno do Mineirão, considerando a largura da via, pois em nada diminuiria a fluidez do trânsito; para que o Prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, estabeleça o perímetro nos moldes do padrão FIFA até a solução dos problemas em definitivo; para que a Minas Arena abra os portões do estádio e o estacionamento com, no mínimo, 4 horas de antecedência e para que acolha os barraqueiros em comum acordo com a Prefeitura para se instalarem na esplanada do estádio.
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