Viçosa reivindica delegacia regional de polícia
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- Criado: Segunda, 13 Abril 2015 18:17
A criação de uma delegacia regional em Viçosa (Zona da Mata), o aumento de efetivos das Polícias Civil e Militar, bem como o envolvimento maior da Polícia Federal na investigação dos crimes ligados ao tráfico de drogas, que predominam na região. Essas foram as principais demandas trazidas durante a audiência pública que a Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou no município nesta segunda-feira (13/4/15).
Além de cinco deputados - quatro estaduais e um federal -, participaram da reunião na Câmara Municipal mais de cem pessoas, entre cidadãos, representantes de órgãos e entidades envolvidos com a segurança pública. A audiência foi solicitada pelos deputados Paulo Lamac (PT) e Roberto Andrade (PTN), com o objetivo de debater a violência crescente em Viçosa e região.
O deputado Paulo Lamac disse que o município registrou, nas últimas semanas, mais de dez assassinatos, a maioria deles relacionados ao tráfico de drogas, além de tentativas de homicídio. Ele acrescentou que o problema não ocorre somente na cidade, mas em todo o País. “Vivemos o aumento do consumo de drogas, o que é um grande desafio”, refletiu.
Ele lembrou que participou, em março, de reunião na Secretaria de Estado de Defesa Social para discutir o assunto, quando foi ressaltado que Viçosa é a única cidade no Estado com universidade federal que não tem delegacia regional, apesar de já ter a estrutura física para ela. Essa seria, segundo o parlamentar, uma medida de curto prazo, que permitiria à sociedade obter uma sensação maior de segurança. E nesse aspecto, o deputado também reforçou a necessidade de aumentar o efetivo das polícias.
Maioria dos homicídios é ligada ao tráfico de drogas
O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), lamentou ter recebido na reunião a notícia de que mais uma pessoa tinha sido assassinada no município na manhã desta segunda (13). O homicídio, segundo ele, ocorreu no bairro Santa Clara, e o motivo era, mais uma vez, o tráfico de drogas. O parlamentar avaliou que há duas pontas na questão do tráfico: de um lado, a juventude pobre da periferia, que sofre com o tráfico; e de outro, a juventude com mais posses, que consome drogas e assim, alimenta o tráfico.
O parlamentar lembrou que a maior parte dos homicídios tem ligação direta com o tráfico de drogas. E por isso, reivindicou maior participação do Governo Federal nas políticas de segurança. Ele enfatizou que é a Polícia Federal a responsável pela investigação dos crimes de tráfico. Além disso, na sua opinião, a Polícia Rodoviária Federal deveria atuar de maneira mais efetiva nas estradas, para coibir o transporte de drogas.
Ainda de acordo com o deputado Sargento Rodrigues, o Governo Federal também precisa garantir maior controle das fronteiras, já que as drogas vêm de países vizinhos ao Brasil. A constatação do deputado é de que a União tem falhado em todas essas ações. Segundo ele, as Polícias Federal e Rodoviária Federal não contam com pessoal e estrutura adequadas e, além disso, o trabalho nas fronteiras é deficiente.
População flutuante - O deputado Roberto Andrade destacou que Viçosa tem uma particularidade: uma população flutuante de cerca de 20 mil estudantes da UFV e outras faculdades locais. “O estudante fica aqui o ano todo, mas não é computado pelo Censo do IBGE”, disse. Citando o programa Tolerância Zero, implantado em Nova York, o deputado destacou que o trabalho na área de segurança deve ser primeiramente preventivo. “Temos que discutir a violência nas áreas de risco e fazer parcerias com as entidades que lidam com o público jovem”, disse.
A presidente da Câmara Municipal de Viçosa, Marilange Coelho Ferreira, disse que melhorias sólidas na segurança pública só virão com investimentos em educação. Ela também defendeu a retomada da escola em tempo integral no Estado.
Já o padre Lauro Barbosa alertou para o que chamou de "extermínio de jovens" em Viçosa. “Pelo menos um jovem da paróquia é morto por mês, e todas as mortes estão ligadas ao tráfico de drogas. É preciso coragem para enfrentar não só as consequências, mas principalmente as causas desse problema. Chega de violência!”, afirmou.
Também Bruna Carvalho, do Conselho Municipal da Juventude, destacou que a violência do tráfico atinge principalmente os moradores da periferia. “Mais de 75% das vítimas da violência são negros e pobres”, alertou ela, acrescentando que a política de segurança não pode envolver apenas a repressão, mas também a prevenção.
População cobra outras ações na segurança
Na fase de debates, Paulo Márcio de Freitas, presidente da Associação Comercial de Viçosa, entregou carta à comissão, fazendo reivindicações de melhoria na segurança, reforçando a necessidade da criação da delegacia regional e de aumento do efetivo das Polícias Civil e Militar.
Outras solicitações foram trazidas por Eunice Alves Nogueira, conselheira municipal da Criança e do Adolescente, que pediu a criação de um comissariado da criança e do adolescente e a ampliação da equipe do Conselho Tutelar de Viçosa.
Rosângela Fialho, do Centro de Desenvolvimento Sustentável de Viçosa, reivindicou a construção de um albergue. “Hoje o condenado em Viçosa vai para o regime residencial porque não temos albergue. Temos cerca de 300 presos nessa situação. E por isso, não temos controle sobre os passos dessas pessoas. Não sabemos se estão trabalhando ou se estão em casa”, disse.
Dias de terror - O prefeito de Viçosa, Ângelo Chequer, disse que “a cidade tem vivido dias de terror”. E lembrou que a demanda por uma delegacia regional vem de 2011 e até hoje não foi atendida. Ele reforçou essa necessidade argumentando que Viçosa tem demanda na área de segurança muito superior a Ponte Nova e a Ubá, na mesma região.
Chequer disse que participou de reunião com o secretário de Estado de Defesa Social, Bernardo Santana, e que foi prometida a melhoria do efetivo da PM no médio prazo, mas que quanto à Polícia Civil, não foi dada nenhuma previsão. Por isso, ele pediu aos deputados a intermediação para marcar uma nova reunião para encaminhar as solicitações.
Nilda de Fátima Soares, reitora da UFV, destacou os projetos que a universidade tem realizado para apoiar os jovens. “Queremos que os novos universitários tenham uma entrada diferente na UFV, com aulas de esportes, mais lazer e cultura na universidade. Temos que estar atentos a essa juventude, que está em mudança constante”, ressaltou.
Polícias falam de sua situação
O delegado regional da Polícia Civil, Marcus Vinícius de Paiva Silva, pediu mais policiais civis na cidade. Ele considerou como agravante o plantão regionalizado, no qual os policiais têm que se deslocar até 280 km para registrar uma ocorrência. Segundo o delegado, esse plantão ainda funciona de modo precário na cidade.
O comandante da 4ª Região da PM, coronel José Geraldo de Lima, também reclamou da falta de policiais, mas disse que há a perspectiva de que sejam chamados 30 militares no próximo concurso. Ele ainda destacou algumas dificuldades na segurança pública como um todo. “De 100 criminosos, quantos são levados a julgamento? A certeza da impunidade acaba provocando a reincidência no crime”, lamentou.
O deputado João Leite (PSDB) defendeu maior participação do Governo Federal na resolução dos crimes envolvendo tráfico de drogas. Também postulou como urgente a necessidade de se integrar as Polícias Civil e Militar. Ele aproveitou para ler trecho de um texto do reverendo presbiteriano Elben Lenz César sobre a situação de Viçosa: “Temos que fazer uma revolução que diminua o número de dependentes químicos, de pessoas envolvidas no tráfico, de estudantes que se embriagam nos fins de semana, de assassinos frios, de pessoas que de algum modo são cúmplices dessas coisas, e de viçosenses anestesiados que nada veem nem derramam uma lágrima sequer.”
O deputado federal Padre João (PT-MG) acrescentou que, antes de se mudar o Estatuto da Infância e da Adolescência (ECA), é preciso fazer com que ele seja cumprido. “Não há unidades para recolher o menor. Qual município tem essa estrutura? Temos que fazer valer a lei”, advertiu. Outro problema apontado por ele é a ausência de atividades esportivas e de lazer para a juventude. “Não tínhamos mais professores de educação física na rede estadual. Agora é que está havendo concursos para essa área e professores estão sendo chamados”, lembrou.
Requerimentos - Ao final da reunião, foram aprovados vários requerimentos de providências a autoridades estaduais e federais. Os deputados solicitam a transformação da Companhia Independente da PM de Viçosa em batalhão; a implantação do plantão 24 horas na cidade; visitas à Secretaria de Estado de Defesa Social e à Superintendência Regional da Polícia Federal para discutir as demandas tratadas na reunião; e o envio das notas taquigráficas da audiência a vários órgãos.
Com ALMG
Fotos: Guilherme Dardanhan
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