Depoimentos reforçam que Vale tinha pleno conhecimento dos riscos de rompimento da Barragem de Brumadinho e nada fez para evitar centenas de mortes

Em mais uma reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito da Barragem de Brumadinho, realizada nesta segunda-feira (01/07), depoimentos reforçam, ainda mais, os indícios de que a Vale tinha informações suficientes sobre problemas na estrutura da Barragem B1 que justificassem o acionamento do nível 2 do Plano de Ação de Emergências. Neste caso, as sirenes teriam sido acionadas e a área evacuada, em razão do risco de rompimento, evitando a morte de centenas de pessoas.

Uma das pessoas ouvidas hoje foi Tércio Andrade Costa, operador do radar interferométrico da barragem, que registra movimentações na estrutura dentro e fora, para detectar fatores de risco internos e externos. Era ele o responsável por monitorar o equipamento na Barragem B1, instalado em março de 2018 e que, nos primeiros sete dias de funcionamento, já detectou uma deformação superior a 100mm, em uma área de cerca de 200m2. Segundo Tércio, sua função era coletar os dados, transformar os arquivos em imagens e enviá-lo a seus superiores, dentre eles César Grandchamp, Cristina Malheiros, Renzo Albieri e Arthur Ribeiro, que eram as pessoas que deveriam analisar as informações e avaliar riscos.

Os deputados questionaram sobre o episódio ocorrido em 11 de junho de 2018, quando ocorreu um faturamento hidráulico, durante a instalação de drenos horizontais na barragem e que, pelo apurado, pode ter causado sério risco à estrutura. Tércio explicou que foi chamado às pressas e orientado a criar uma área específica de monitoramento pelo radar, em razão do ocorrido. Durante trinta dias, as medições, antes feitas mensalmente, passaram a ser diárias. No dia 18 de julho, Cristina Malheiros teria dado ordem para voltar a fazer a leitura mensal. Neste período, inicialmente foram detectadas alterações, com picos de velocidade, mas que dias depois normalizaram.

Tércio relatou que na leitura feita em 14 de janeiro deste ano, dias antes do rompimento da barragem, identificou deformações em uma área de quase 15 mil m2, com o gráfico tendendo a formar parábola, o que indica alterações mais rápidas, em curto espaço de tempo, tendo sido a maior alteração detectada desde a instalação do equipamento. Esse alerta foi repassado a seus superiores, em e-mail enviado em 18 de janeiro, acompanhado dos arquivos de dados. Em 21 de janeiro, recebeu a resposta, também por e-mail, enviada por Arthur Ribeiro, que afirmava ter comparado os dados com os de outros monitoramentos da barragem e que estava tudo dentro da normalidade.

Questionado sobre o armazenamento dessas informações, Tércio afirmou não ter recebido ordem alguma para acessar os dados do radar após o ocorrido e confirmou ter tido seu notebook recolhido, com login e senha, cinco dias após o rompimento da barragem, por ordem de Tales Bianchi, gerente de planejamento da Vale, que foi ouvido pela CPI logo em seguida. Sobre o recolhimento do notebook, explicou tê-lo feito em atendimento à solicitação da Polícia Federal, seguindo orientação superior de entregar e facilitar o acesso dos investigadores a tudo que pudesse ajudar nas apurações. Tales esclareceu que não trabalhava na mina Córrego do Feijão. Apenas atuou voluntariamente no Comitê de Crise, fazendo revezamento com outros gestores.

O deputado Sargento Rodrigues, vice-presidente da CPI, ressaltou que, assim como os dois depoimentos da semana anterior, os de hoje serviram para dar mais segurança à sua conclusão de que a Vale tinha absoluto conhecimento de que a barragem B1, desde 2017, apresentava sérios problemas estruturais. “A instalação de um radar de monitoramento, em março de 2018, reforça essa afirmação. O conjunto de ações da direção da Vale nos leva à certeza de que foram irresponsáveis e gananciosos. As informações e indícios que chegaram até eles, foram ignorados. Havia elementos suficientes para que tivessem acionado o nível 2 do plano de emergência, mas optaram por continuar operando, priorizando o lucro em detrimento de centenas de vidas e dos danos ambientais que o rompimento causaria. Para mim, não restam dúvidas de que há, no mínimo, o dolo eventual”, afirmou, sugerindo que a CPI faça uma acareação entre César Grandchamp, Cristina Malheiros, Renzo Albieri e Arthur Ribeiro, nomes citados por vários depoentes. “Precisamos definir papéis e responsabilidades. Outra coisa está muito óbvia: pessoas estão mentindo, em uma estratégia clara de blindar a empresa”.

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