Ex-diretor executivo da Vale afirma não ter sido informado sobre riscos de rompimento da Barragem de Brumadinho e reafirma confiança em declaração de estabilidade

A reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, desta segunda-feira (03/06), ouviu o depoimento do ex-diretor executivo de Ferrosos da Vale, Gerd Peter Poppinga. Desde março, ele pediu seu desligamento da empresa, após recomendação do Ministério Público, em razão das investigações sobre as causas e os responsáveis pelo rompimento da Barragem da Mina do Feijão, em janeiro deste ano.

Assim como tem acontecido nos depoimentos dos funcionários da mineradora, ouvidos anteriormente pela CPI, foi mantida a estratégia de blindagem dos altos executivos da empresa. Gerd Poppinga, apesar do cargo que ocupava, tendo acima dele, em nível hierárquico, apenas o então presidente, Fabio Schvartsman, também afastado do cargo, afirmou que não sabia de nada que pudesse colocar em risco a estabilidade da barragem, uma vez que não foi informado sobre riscos por seus subordinados e não tinha, até então, motivo algum para não confirmar na declaração de estabilidade emitida pela empresa Tüv Süd.

Questionado pelo vice-presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues, ele afirmou que fazia reuniões periódicas com os diretores que compunham a sua equipe, dentre eles Silmar Silva e Lúcio Cavalli, que participavam dos painéis de especialistas, promovidos pela empresa, oportunidade em que era feita uma apresentação resumida dos riscos de todos os temas abordados. Dentre os assuntos tratados nessas reuniões, estavam os laudos de estabilidade das barragens. Outros gerentes, ouvidos anteriormente, confirmaram a informação de que os dois diretores foram informados sobre problemas ocorridos na barragem B1, em junho de 2018, referente à instalação de um dispositivo: o DHP - drenos horizontais profundos. Mesmo assim, Gerd Poppinga afirmou que seus subordinados não reportaram a ele sobre qualquer risco e que ele não teve acesso aos relatórios, mesmo estes estando disponíveis em um sistema interno de informações, chamado de GRG, portanto, não tomou conhecimento de nada.

Tomando como base o depoimento dado pelo ex-diretor à CPI do Senado, o deputado Sargento Rodrigues questionou se ele confirmava as informações prestadas em Brasília, dando ênfase à afirmação de que confiava cem por cento em seus subordinados e no laudo emitido pela Tüv Süd. Assim como todos que o antecederam, Poppinga afirmou que, até que seja concluída a perícia e as investigações, não tem motivo para não confiar.

O deputado perguntou se nem mesmo todos os problemas que antecederam a ruptura, já apontados pelas investigações, o fariam colocar em dúvida os laudos e declarações. Em resposta, disse não ter conhecimento técnico para questionar o trabalho da empresa de auditoria e nem mesmo dos profissionais de geotecnia da empresa. “O senhor está há quase vinte anos na Vale, ocupando um alto cargo na diretoria, comandando cerca de setenta mil pessoas, com conhecimento e experiência profissional para tal, conforme vemos em seu currículo. O curioso é que eu não tenho formação nem conhecimentos específicos nas áreas de engenharia, geologia, geotecnia, nem mineração, mas, com apenas alguns meses de trabalho desta CPI, após ouvir cerca de 30 pessoas diretamente envolvidas nesta tragédia, já sou totalmente capaz de afirmar que foram vários os sinais de que havia algo errado na estrutura da B1 e que o risco de ruptura era de conhecimento da Vale”, ironizou o deputado.

Questionado sobre qual seria, de fato, o setor responsável por avaliar as tais anomalias e tomar as providências cabíveis, como o acionamento do plano de segurança, Poppinga afirmou ser esta uma atribuição da área de geotecnia operacional, ficando as inspeções a cargo de Cristina Malheiros, responsável técnica pela barragem. Já a parte de manutenção seria responsabilidade do engenheiro Lúcio Medanha, que morreu na tragédia. Ao reafirmar que o ex-diretor seguia a estratégia de responsabilizar subordinados e blindar superiores, Sargento Rodrigues voltou a citar o currículo do depoente, após ouvir do mesmo a confirmação sobre as informações que nele constam no site da Vale: “Observei que, sobre o ano de 2015, o senhor esqueceu de acrescentar que em novembro, à época do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, já estava na linha de frente da empresa, assim como agora, quando a tragédia se repetiu em Brumadinho. Podemos afirmar que a Vale é reincidente no crime de assassinato. São quase trezentas pessoas que perderam a vida e danos ainda incalculáveis causados ao meio ambiente e o senhor é corresponsável por tudo isso”, finalizou o deputado.

 

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