REPRESENTANTES DA EMPRESA POTAMOS AFIRMAM QUE A VALE SABIA DA POSSIBILIDADE DE ROMPIMENTO DA BARRAGEM B1 DE BRUMADINHO

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Barragem de Brumadinho ouviu, na manha desta quinta-feira, 25/4/2019, na condição de testemunhas, Sebastião Gomes, Elias de Jesus Nunes e Waldison Gomes da Silva, sobreviventes do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, bem como Maria Regina Moretti e Fernando Alves Lima, representantes da empresa Potamos Engenharia e Hidrologia. Segundo a engenheira, seria quase impossível afirmar se a barragem romperia ou não, mas os estudos comprovavam que havia uma falta de critérios de segurança naquela barragem. “O modo de falha foi o de liquefação. Isso foi claro, sem dúvida”, informou.

Na ocasião, Maria Regina afirmou que a empresa em que ela faz parte não concordava que o índice de 1.09 seria um fator de segurança, abaixo do valor de 1.3, índice reconhecido pelas boas praticas de engenharia e confirmado como seguro pelos principais especialistas nacionais e internacionais. Ainda segundo a engenheira, a Vale conhecia todos os valores.

“Fomos afastados porque quando apresentamos os estudos para a Vale com o fator de segurança de 1.09, a empresa questionou a metodologia usada para fazer os cálculos e começou uma discussão técnica sobre os parâmetros de metologia. Eles queriam mudar nossos parâmetros de cálculo, como não aceitamos, nos afastaram das atividades. Falaram que eramos conservadores e que outras empresas fariam outros cálculos”, ressaltou Maria Regina. Ela também lembrou que havia uma preocupação igual com os estudos da barragem de Fundão, localizada em Mariana, rompida em 2015, mas que também foi afastada do caso.

Maria Regina esclareceu, ainda, que não havia condições de segurança na barragem b1 de Brumadinho e precisaria de medidas para melhorar o índice. “Não concordo com o fato de segurança que a TUV SUD achou seguro, 1.05 não é o que a boa prática de engenharia recomenda. Depois de tudo que aconteceu, esses números estão subindo, mas naquela época era 1.3”, concluiu.

De acordo com o sócio da Potamos, Fenando Lima, em dezembro de 2017, a Vale pediu que a empresa apresentasse alternativas de intervenções para a maior segurança da barragem. No entanto, a Vale ficou de analisar as soluções propostas, mas só consultou novamente a Potamos em 2018, sem dar um retorno sobre o que havia sido proposto e informando que novos estudos sobre a segurança da estrutura estavam sendo feitos, para que fosse verificado novamente o fator de segurança.
Fernando Lima afirmou, então, que a Potamos se recusou a reinterpretar a situação e que, a partir daí, a relação da empresa com a Vale ficou estremecida. A mineradora inclusive solicitou à Potamos que transferisse para a Tüv Süd todos os seus estudos de geotecnia sobre a barragem.
O sócio da Potamos também confirmou que em junho de 20108, MAKOTO NAMBA, da TUV SUD, enviou e-mail contendo o relatório da revisão periódica da barragem B1, como também que os membros da POTAMOS analisaram o documento e constataram que mesmo após as análises adicionais solicitadas pela VALE, o fator de segurança para liquefação da barragem B1 se manteve em 1.09, o mesmo valor constatado pela POTAMOS. Entretanto, no relatório elaborado pela TUV SUD, constava como fator de segurança mínimo requerido para análises de liquefação, o valor de 1.05 e não o valor de 1.3, quando entraram em contato, via telefone, com MAKOTO NAMBA e este disse que se assim não fosse “a barragem não ia passar”.

SOBREVIVENTES RELEMBRAM O DIA DA TRAGÉDIA

No início da reunião, os sobreviventes prestaram esclarecimentos sobre os fatos e deixaram claro que, em muitos anos de trabalho na Vale, a primeira simulação caso houvesse rompimento foi realizada entre outubro e novembro de 2018, o que, segundo o deputado Sargento Rodrigues, vice-presidente da comissão, é claro que a Vale sabia do risco de rompimento da barragem B1, de Córrego do Feijão, em Brumadinho. “Esse treinamento realizado em outubro de 2018 reforça que a direção da Vale tinha total conhecimento do risco, mas o pior disso é não tomou providências e deixou que seus funcionários continuassem trabalhando correndo risco e, nem sequer, a sirene foi acionada. Vou deixar claro minha preocupação desde o primeiro momento, pois a Vale praticou um genocídio. Até o momento são 233 mortos e 37 desaparecidos, totalizando 270 pessoas. A Vale sabia,”, disse.

Em suas falas, Sebastião e Elias, que sobreviveram porque entraram em uma caminhonete, afirmaram que estavam na área de vagão quando ouviram um estrondo enorme parecido com estouro de um pneu de caminhão de grande porte, mas que, quando olharam, viram que a barragem havia rompido. Segundo eles, foi tudo muito rápido e estima-se que a lama tenha chegado até eles em cerca de 10 segundos e na área administrativa da Vale, em 26 segundos. “Tentei voltar, correr e fui para a caminhonete. Não havia saída, foi um momento de muito desespero. Achei que fosse morrer. Começamos a orar e pedir a Deus pela vida”, declarou, emocionado, Sebastião Gomes.

Ainda durante a reunião, o deputado Sargento Rodrigues fez vários questionamentos sobre o rompimento da barragem. De acordo com Sebastião Gomes, se as sirenes tivesse sido acionada, o resultado seria totalmente diferente. “O resultado seria muito melhor do que a catástrofe que ocorreu, pois havia pontos de foco e as pessoas responsáveis por eles. Era horário de pico e o restaurante estava no máximo, creio que com mais de 200 pessoas”, afirmou Sebastião. “Se a sirene tivesse sido acionada, o pessoal do restaurante teria chance de sobreviver porque dava tempo de correr até a portaria”, completou Elias.

Extremamente abalado com a situação, Waldison Gomes da Silva, que estava naquele dia a serviço pela empresa terceirizada, Desentupidora Palmira, afirmou que subiu na traseira de um caminhão-tanque para se proteger da lama. “Vimos a montanha de lama destruindo tudo na nossa frente. Subi na traseira do tanque do caminhão. A lama tampou as máquinas e virou o caminhão. Com isso, minha perna foi prensada. Caí, machuquei muito, mas consegui voltar para o caminhão”, relatou. Segundo informações, a empresa Vale entrou em contato com Waldison, que mora em Mário Campos, apenas nos dias do ocorrido, não prestando nenhuma assistência e o mesmo está fazendo tratamento psicológico e psiquiátrico pelo SUS.

Sargento Rodrigues agradeceu o depoimento dos sobreviventes na CPI e destacou que é uma forma de humanizar os trabalhos da comissão. Segundo ele, o objetivo da CPI é apurar e defender aqueles que foram diretamente afetados.

A CPI informou a resposta do ofício encaminhado ao Instituto de Criminalística da Polícia Civil, onde afirmou que a Vale não entregou 80% dos equipamentos e insumos que se comprometeu a encaminhar ao Instituto. “O instituto de criminalística tem passado muita dificuldade para reconhecimento dos corpos”, afirmou Sargento Rodrigues.

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